segunda-feira, 24 de abril de 2017

A SOLUÇÃO DE QUEIMADAS (Definitiva)

FDP3 Produções apresenta

A

SOLUÇÃO

DE

QUEIMADAS

(Definitiva)


Þ Uma proposta viável, talvez até duas, visando o desenvolvimento do lugar. (Ah, ah!)


Há vinte anos escrevi este cordel nada sadio falando sobre alguns problemas políticos e sociais de Queimadas, um folheto cujo conteúdo até procurei esconder dos amigos tempos depois. Mas, afinal, esconder por quê? Tudo bem que eu já não defendo essa postura mais radical, essa revolta de tudo e de todos, assumindo a posição, inclusive, de um ateu que desrespeitava as religiões e seus adeptos. Foi apenas uma fase rebelde da minha vida... Enfim, trago aqui pra vocês este material corrigido apenas na parte ortográfico/gramatical e com alguns nomes poupados, uma vez que as verdades em meio às brincadeiras aqui contidas continuam bem atuais.


A SOLUÇÃO DE QUEIMADAS (Definitiva)
 Meu primeiro folheto de cordel, de 1997


Esta cidade de Queimadas
Nem Jesus consegue dar jeito,
Aqui nunca acontece nada
E nestes versos aproveito
Pra falar dessa adm. errada
Do nosso excelentíssimo prefeito.

Não posso e nem devo elogiar
Um local como este daqui,
Onde não tem sequer um lugar
Para o povão se divertir.
E o seu ......... só faz conversar,
Falar besteiras e mentir.

Já está mais do que na hora
De alguém parar para pensar,
Que nossa cidade precisa agora
É de mais gente pra trabalhar.
Mesmo sabendo que embora
Por todo este município afora
Muitos recebem sem se justificar.

Nossa cidade tá precisando

É de mais áreas de lazer,
Pois chega o fim de semana
E não há nada pra se fazer.
Sábado à noite e domingo
É mesmo de entristecer.

Se este lugar tiver de crescer
Será mesmo na base do empurrão,
Pois para uma cidade engrandecer
É necessário um prefeito ter
Coragem, pulso firme e ação.

Como é que eu posso gostar
De alguma forma desta cidade,
Se não há uma praça, um lugar
Que possa servir à comunidade?!
Nesta porcaria de cidade
Um hospital sequer não tem,
Há uma velha maternidade
E que, na verdade,
Não serve a ninguém.

Queimadas não tem conserto,
Quem dera uma real solução.
Mas volto a falar a respeito
Daqueles terrenos em doação,
Os mesmos que a Prefeitura
Estava cedendo ao povão.

........, o nosso ex-prefeito
Pisou na bola e agiu mal,
Misturou política no meio,
Favorecimentos, coisa e tal,
Tendo que se explicar direito
Indo até parar no hospital.

Ele bem que tentou se defender
Daquele seu ato tão infeliz,
Do qual foi vítima e inocente
- Isso é o que ele ainda diz.
E quem quiser terra ou semente
Que vá pedir ao senhor juiz.

Pois terra é para quem precisa,
Não pra quem já tem onde morar,
E a vez é dos mais humildes
Que não têm onde se abrigar.
Por enquanto os que ganharam
Só pensam em vender e alugar.

Sobretudo alguns funcionários
Que trabalham na Prefeitura,
Esses já ganharam terrenos,
Os melhores a essa altura.
Deixando a pobreza na mão
E por debaixo da fartura.

Tem funcionário no poder
Que sobre ele eu digo até, 
Se hoje em dia anda de carro
É porque já andou muito a pé,
Descontando em cima de todos
O seu egoísmo e a sua falta de fé. 

É, a história desses terrenos
Não ficou muito bem explicada,
Não houve uma satisfação amena
E eu sequer consegui foi nada.
Um pedaço de terra, pelo menos,
Para erguer num espaço pleno,
Um puteiro aqui em Queimadas.

Só ficaram enrolando o assunto
E contornando toda situação,
Mas o que eu queria muito
Que era uma boa explicação,
Talvez eu vá ouvir algum dia
Da própria boca de Seu .........

Só fiquei com a terra dos dedos
E nas unhas que ainda não lavei.
Contudo, revelarei um segredo,
Fato este que até agora não contei.
Nada que possa ocasionar medo,
Uma vez que eu jamais vacilei.

É a simples falta do que fazer
Que me obriga assim a rimar,
Tenho muito o que vos dizer
Pois calado não consigo ficar,
E que tal se eu me atrever
Tentar buscar ou até escolher
Uma solução para este lugar?!

Eu já estou é mesmo farto
De tanta igreja que se abre,
De evangélicos, de católicos,
Protestantes, pastores, padres...
Inúmeras religiões e crendices,
Entre tantas outras idiotices
E enganações que se sabe.

Até já vi escrito numa igreja:
“Venha aqui, pare de sofrer!”
Isso é a mais pura safadeza
E ninguém parece perceber.
Somente uma pessoa indefesa
Em tal palhaçada pode crer.

Tem católico que vai à missa

Durante a semana e aos domingos,
Mas que peca pelo ano inteiro,
Levando o tempo só mentindo.
Falando da vida dos outros,
Desta maneira se divertindo.

De início, minha meta não é igreja
Mas nem por isso eu tiro sarro,
Não chega a ser problema meu
Que cada Pastor tenha seu carro
À custa de seus pobres “irmãos”;
Nesse ponto eu até me amarro...

Quem tem muito não se conforma
Quer sempre mais, pensem nisso.
Às vezes eu paro para pensar
E nesse ponto mesmo insisto:
De que valeu o ensinamento
E todo o amor de Jesus Cristo?

Por isso não quero juntar-se
A ninguém, e nem preciso,
Eu sou feliz desta maneira
Digo isto neste improviso.
E peço atenção redobrada
Para um importante aviso:

Venderei, enfim, a alma ao Diabo
Para conseguir um investimento,
Vou lidar com bastante cuidado
Sei que é um negócio azarento.
Mas parece que dá resultado;
Um esforço que dá rendimento.

Só será necessário para isso
Que eu vá numa encruzilhada,
Assinar a esse compromisso
- Minha alma é tudo ou nada!
A mudança dependerá disso;
É uma atitude considerada.

E o “tinhoso” que não se meta
A querer vir me passar rasteira,
Seja com sangue ou com caneta
Assinarei sem qualquer besteira,
Vendendo de vez a alma ao capeta
Já que não posso vendê-la na feira.

Com o dinheiro desse “negócio”
Eu vou investir e botar fé,
Não quero ninguém como sócio
Pra instalar então, um cabaré.
Só vou exigir material do nosso
Em se tratando de mulher.

Tudo quanto é “quenga” e puta
Deste município queimadense,
Poderão logo entrar na disputa,
Reservando um lugar na frente,
Transformando assim nossa luta
Numa prática “digna e decente”.

Queimadas tá precisando urgente

Não só de paróquias ou de igrejas,
Mas sim de um cabaré decente
Isso é o que todo povo deseja,
Onde nada se passa pela mente,
Exceto uma deliciosa safadeza.

E do jeito que há necessitado
Haverá muitos clientes ao dia,
Um espaço bem requintado
Nunca há de faltar freguesia.
Penso nos lucros e no resultado;
- É como ganhar numa loteria!

O povo aqui de Queimadas
Que eu já sei bem como é,
À tarde irá para as igrejas
E de noite, toca pro cabaré.
Provando assim a luxúria
E toda a sua falta de fé.

Há uma favela aqui por perto
Conhecida por “Boca do Boi,”
Só conhece o lugar ao certo
Quem lá perto um dia já foi.
Vez em quando se vê urubu
Sobrevoando, Deus me perdoe!

Não é um lugar muito admirado
E eu nem sequer conheço bem,
Só sei que é bastante visitado
Devido às quengas que por lá tem;
Quando meu cabaré for inaugurado
Garanto que lá não vai mais ninguém.

A “Boca do Boi” deixará de existir
Porque vai ficar sem ninguém,
O Palhoção da Serra, esse vai falir
E eu até já sei disso muito bem,
Só um cabaré é que poderá suprir
A necessidade que esse povo tem.

Virão fregueses até de longe
Dos sítios, vilas e povoados,
E esses tarados que se escondem
Em Dona “Dôra”, atrás do mercado,
Logo mais terão um lugar aonde
Eles possam “foder” sossegados.

Qualquer um que me censure
Se eu não estiver com a razão,
Um lugar cheio de vagabunda
De quenga, viado e sapatão,
Onde se tem lugar para tudo
Menos pra um cabaré. E então?!

Se ninguém mais tomar partido
Muito em breve providenciarei isso,
Mas é melhor que fique entendido;
- Não estou firmando um compromisso!
Cada vez mais eu estou convencido
Que ninguém pode permanecer omisso.

Vou conversar com .........
E explicar tudo direitinho,
Eu não posso garantir, não,
Mas ganho a velha com jeitinho,
E ela me cede o que ......... não deu
Para a realização de um sonho meu,
Uma casa velha já é o caminho.

Mas não adianta só conversar,
O “projeto” é viável e verdadeiro.
Alguém haverá de se mobilizar
Pois, não conseguindo o dinheiro,
Este sonho não pode acabar
Pra alegria desse povo inteiro,
Um cabaré ainda hei de instalar
Nem que pra isso eu morra primeiro.

Nesse sentido eu penso diferente
Dessa maioria tão infeliz,
Que se dizem tão inocentes
Mas apenas o Diabo é quem diz.
 Xingam-me de louco e não sabem
Que ser louco é que me torna feliz.

E por falar em loucura
Essa “virtude” maravilhosa que é,
Eu agora já ando pensando,
Em outro plano considerando
E refletindo muito até.
Possa ser que um financiamento
Com o Diabo dê no pé.
Mas como nunca perco a fé
Arrendarei então um terreno,
Nem que pra isso eu fique devendo
Vou construir nele o cabaré.

Neste lugar há mesmo necessidade
De um ambiente ou coisa assim,
Insisto nisso pensando em todos
Pois não penso somente em mim.
Acredito que viver neste mundo
Foi justamente para o que vim.

Poderei talvez com os lucros
Dessa minha pequena empresa
(Onde nada se fabrica
Senão uma boa safadeza),
Mas só depois de tudo quitado
E quando o caixa tiver beleza,
Descolar então um terreno maior
Pensar alto ou até melhor
E construir uma grande igreja.

Aí sim, farei um bom investimento
Todos nós sabemos bem disso,
Que por todo saco de cimento
Que a minha “fé” empregar nisso,
Terei logo o seu rendimento
Duplicado no compromisso.

Um compromisso de fé
Para com os meus caros irmãos,
De conseguir a salvação até
Sem perda e sem devolução.
Tomando a grana dos “Mané”,
Vendendo o paraíso à prestação,
Eu nunca mais andarei a pé;
Comprarei logo um avião!

Pois como já dizia Raul Seixas
Nos altos e baixos da maré,
“O sucesso da minha existência
Está ligado ao exercício da fé,
Pois se ela remove montanhas
Também traz grana e muita mulher.”

Assim como alguns pastores
Que eu conheço muito bem,
Pregando a justiça divina
E tomando dos que nada tem,
Pregarei então minha “doutrina”;
- Na paz do Diabo, digo amém! 

Queimadas se tornou um reduto
Desses “FDPs” de gravata,
Que tem coragem de roubar os pobres
Da maneira mais cruel e insensata.
Cadê Deus nessa hora, tirou férias?
Tomem-se providências imediatas

Com uma bíblia na mão ou no sovaco
Saem por aí, difundindo a enganação,
Aparentemente convence, mas o fato
É que eles querem mesmo é pôr a mão
No dinheiro e no patrimônio do fraco,
Que entrega tudo sem dizer não.

Mas é do otário que vive o malandro
Assim diz um ditado popular,
E o que tem de filha da puta roubando
Aqui não daria para contar.
Melhor é continuar imaginando
O que eu direi ao sair “pregando”,
E o que farei ao começar a “rezar”.

Vou fazer uma revolução
No infinito universo religioso,
Mesclando várias religiões
Em um culto esplendoroso.
Regado à luxúria e consumo,
Em vez de hóstia, só uísque e fumo;
Será um banquete maravilhoso!

Realizarei ainda toda semana
Uma celebração divina,
Onde darei às velhas o pão
Com uma dose de Estricnina,
E ensinarei o “ABC” da igreja
Só para as moças e meninas.

Não que eu seja um ateu
Eu acredito em tudo o mais,
Acredito que exista Deus,
O Demônio, o Satanás...
E cuidado com Zé Pilintra,
Ele pode te catar por trás!

Seria bom se todo esse povo,
Eu, você, ele... qualquer um,
Nunca rogasse ao Deus-Poderoso
Pois nós temos algo em comum;

Somos uma raça impura até na voz
E cada qual que se diga ofendido;
Se Jesus Cristo morreu mesmo por nós
Ainda hoje deve tá arrependido. 


                                                QUEIMADAS, DEZEMBRO/1997. 


Um comentário:

  1. tu é doido, macho. se não ti derão uma piza nesse tempo atrz nao te dão mas shuashuashua

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