sexta-feira, 28 de julho de 2017

CORDEL - ZOLIMPIADAS DO SERTÃO


"ZOLIMPIADAS DO SERTÃO"

Viva o povo culto, criativo e lutador do semiárido!

Sonhei com as Zolimpíadas
Chegando no meu sertão,
Foi o maior espetáculo
Que se viu na região.
Tinha gente que só a peste
Lá das brenhas do Nordeste
Chegando de caminhão.
                 
No desfile de abertura
A bandeira nordestina
Toda feita de retalhos
Pelas mãos de Severina.
E eu ali, de camarote
O bode virou mascote
A tocha era a lamparina.

A nossa delegação
Para conquistar os louros
Desfilou de guarda-peito
Gibão e chapéu de couro.
E enfrentando a batalha
Conquistou muitas medalhas
De bronze, de prata e ouro.

Quem carregou a bandeira
Foi Ritinha de Zé Bento,
Já a pira foi acesa
Por Tonin de Livramento.
Nosso atleta principal
E recordista mundial
Do hipismo de jumento.

Antes das competições
Um lanche bem reforçado
Com buchada, cajuína,
Rapadura e milho assado.
Fava verde com galinha,
Sarapatel com farinha,
Angu com bode guisado.

Nas águas do Velho Chico
As provas de natação,
Os pulos ornamentais
De cima de um paredão.
Ginástica num terreiro,
Remo e vela num barreiro
E judô num palhoção.

A maratona, seu moço,
Era por nossas estradas.
Atravessando os riachos
Nas veredas, nas quebradas
Da paisagem nordestina,
Ao som do galo-campina
E da patativa golada.

Na competição de tiro
Os velhos de bacamarte,
Pé-de-bode, granadeira,
Vestimenta de zuarte.
E davam cada pipoco
Do sujeito ficar môco,
De se ouvir em toda parte.

A prova de atletismo
Conhecida por carreira
De cem e duzentas léguas
Com barreira e sem barreira,
Foi por dentro do cercado,
Atravessando um roçado
Pelo meio das capoeira.

Os saltos, lá no sertão
Eram provas de “pinote,”
De riba de uma barreira
Num pedaço de caixote.
O cabra de lá pulava
Num açude tibungava,
Caindo feito um caçote.

O jogo de futebol
Se jogava sem chuteira
Num campo de chão batido
No alto de uma ribanceira.
As traves de barandão,
O campo sem marcação,
No calor e na poeira.

Levantamento de peso
Quem ganhou foi Sebastião.
Cinco sacos de Farinha,
Três arrobas de algodão.
Com esse peso todinho
Ele se ajudou sozinho
E se sagrou campeão.

O arremesso de pedra
Quem ganhou foi Expedito,
No tiro com baladeira
Carmelita fez bonito.
E já na queda de braço
O ouro foi pra Inácio
E a prata pra Benedito.

Fizeram de três batentes
Pódio pra premiação,
Uns ramos de onze horas
Era a coroação.
E numa latada de lona
Asa Branca na sanfona
Completava a emoção.

E assim eu me acordei
Com orgulho do Sertão,
Desse povo vencedor
De tão grande coração.
De história tão sofrida,
Que nas batalhas da vida
Nasceu pra ser campeão.



        Edson Francisco, cordelista de Gravatá/Pernambuco.


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